GLAUQUÊMIA E O GLAUCOMA por natanael gomes de alencar

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Glauquêmia cantava e tocava como uma ave treinada por Orfeu. Como a Rainha das Sereias. Em todos os lugares, desde criança, soltava sua voz a todo volume. Era super afiada; como diria Perillo, era
Voz afiada em pedra que amola faca / Voz de cego clareando a escuridão
Sabedora disso, fazia questão de seduzir criaturas e coisas do seu entorno. Quando abria boca para desfiar uma canção, tudo à volta flutuava, flutuava. Conta-se de um rapaz que alcançou os céus, sob o poder de sua voz. Fala-se de outro que, faltando um tantinho para pisar no paraíso, ficou surdo de repente e caiu na forma de pingos de chuva. Porém, herdara da família paterna, uma doença fatídica que lhe atingia os olhos. As lesões em seu nervo ótico iam evoluindo devagarinho. Enquanto numa pessoa com vista saudável o processo de enxergar segue da córnea, pegando a via do globo ocular, até o nervo ótico, que explode em luzes e cores no cérebro, nume pessoa lesionada de glaucoma - sim, é esse o nome - tem um monte de buracos e sombras nesse caminho das imagens até os miolos. Ela foi pra cidade grande, mostrar a beleza de seus cantos e encantos sonoros. E sua vista ia enfraquecendo com o passar do tempo. Muitos prêmios arrebatou. Muitas flutuações provocou nos espíritos. Até que....numa manhã, quando a cegueira tomou-lhe todas as órbitas oculares, um canto diferente de todos os outros saiu de seu interior e foi modificando a textura da sua pele, resultando numa metamorfose espetacular. Suas roupas foram caindo naturalmente. Seus braços e instrumento tornaram-se asas. Agora, cantaria pela eternidade, como o pássaro preferido das deusas e deuses do azul.

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